segunda-feira, 10 de junho de 2013

ADORASHOW?

ADORASHOW?



            Porque já nos dias de Davi e Asafe, desde a antiguidade, havia chefes dos cantores, e dos cânticos de louvores e de ação de graças a Deus.
Neemias 12:46

            Uma vez que lido com a música na igreja há mais de trinta e cinco anos, pude observar, durante esses anos, as transformações ocorridas.
Quando eu era menino, frequentava uma igreja Batista. Igreja tradicional em cuja liturgia utilizavam-se apenas hinos do “cantor cristão” (hinário da denominação Batista). Diga-se de passagem, que alguns hinos são lindíssimos e de profundo significado.
Quem pode contestar a beleza de um “Castelo forte” ou de um “Foi na Cruz” e isto sem falar de outras dezenas de hinos maravilhosos que ainda poderíamos mencionar?
Naquela ocasião, e estamos falando de algo em torno dos anos de 60, não havia ainda os chamados “corinhos” (cânticos compostos por autores nacionais). Os hinos, em sua grande maioria, eram de autoria estrangeira.
A partir dos anos 70 teve início, entre os jovens, um movimento musical evangélico que direcionava para uma pequena transformação nesta área. Surgiram canções compostas por jovens brasileiros, com ritmos que diferenciavam dos tradicionais hinos e que, ao mesmo tempo, atraíam a atenção da juventude, e por que não dizer, de alguns adultos também.
Como disse há pouco, estas canções ficaram conhecidas como “corinhos”.
Por ter um estilo jovem e ritmo acentuado, elas pediam, em seus arranjos musicais, o acompanhamento de alguns instrumentos que não eram encontrados dentro de uma igreja, como guitarra, violão, contrabaixo e “o pior de todos”, a barulhenta bateria.

As igrejas tradicionais, normalmente, usavam para o seu momento de louvor e adoração um piano ou um órgão e nada mais.
O cântico congregacional, como ainda é chamado, era dirigido por um regente, que, em sua grande maioria, era alguém que havia concluído o curso de Música Sacra.
Não havia ainda a pessoa, como hoje conhecemos e chamamos, do Ministro de louvor.
Aos poucos as igrejas foram cedendo e aceitando, claro que sob alguns protestos dos mais conservadores, a entrada de outros instrumentos em suas liturgias.
Gradativamente, o cenário dos cultos foi mudando. Hoje ainda podemos achar igrejas com seus corais e toda sua liturgia mantida, porém, poderemos achar nelas também, em algum canto do templo, um pequeno grupo instrumental mais contemporâneo, ou como alguns preferem chamar, uma banda.
Penso que isto é salutar, pois vejo um povo buscando a sua identidade musical, mesmo dentro de uma igreja e isto, com certeza, não é pecado.
No entanto, tudo isto que falamos até aqui se refere a um meio e não a um fim em si mesmo, ou seja, tanto a música como os instrumentos, sejam eles quais forem, são meios para louvarmos e adorarmos a Deus, e é nisto que desejo me deter.
Não há nenhum problema em vermos e experimentarmos a modernização dos equipamentos e a chegada da tecnologia dentro dos nossos cultos, uma vez que ela chegue tão somente para somar.
Mas o que tem me preocupado e entristecido é o fato de que o meio passou a ser mais importante do que o fim.
A cada dia surgem novas tecnologias, instrumentos musicais cada vez mais modernos, mesas de som digitais, microfones mais sensíveis e amplificadores mais possantes.
É indiscutível que a qualidade dos nossos instrumentos e instrumentistas tem melhorado significativamente. Mas, até aonde isto é positivo ou pode se tornar objeto de disputa e competição dentro do culto?
Em meu livro “A CENTÉSIMA OVELHA” no capítulo “Esta igreja é muito pequena para o meu talento” eu coloco algo que, infelizmente, é muito encontrado hoje dentro das igrejas, mais propriamente, dentro dos ministérios de louvor.

“O ministério de louvor não é uma banda musical onde o objetivo é entreter os ouvintes e fazer uma apresentação dos seus talentos pessoais, esperando em troca o retorno financeiro, o aplauso e a fama.
Não é difícil observarmos verdadeiras batalhas sobre os tablados das igrejas. O guitarrista aumenta o volume do seu instrumento para que todos possam ouvir o seu solo, por sua vez o baixista, que não quer ficar para trás, dá uma “aumentadinha” também no volume do baixo. Sentindo-se prejudicado, o baterista começa então a bater com mais força e inicia um solo de bateria em cima do solo da guitarra. Não podemos nos esquecer do cantor, que faz um sinal ao rapaz da mesa de som para que aumente o seu microfone. Pronto, este é o cenário do ministério de louvor de muitas igrejas hoje, acompanhado de um auditório que, neste momento, faz caras e bocas, devido ao som ensurdecedor produzido por este “abençoado” ministério.
Quem, em sã consciência, pode sentir a presença de Deus em um ambiente assim, onde a vaidade humana, o egoísmo, a rivalidade, a competição e a soberba predominam?”

Não foram poucas as vezes em que estando sobre um palco, tocando e cantando diante de um auditório, fosse grande ou pequeno, minha alma teve de lutar contra o desejo de se envaidecer. Na verdade, a linha que divide a adoração e a vaidade é muito tênue.
A grande verdade é que o povo de um modo geral, até porque as chamadas “rádios evangélicas” doutrinam os seus ouvintes nesta direção, olha para os “levitas” com grande admiração por seu talento musical, tornando-os, muitas vezes, verdadeiros “ídolos”.
Infelizmente, outro dia, ouvi de uma famosa “cantora gospel” em um programa numa das rádios evangélicas, o anúncio de que estaria junto ao seu “fã-clube” numa tarde de autógrafos em determinado lugar.
E é nisso que alguns ministérios e ministros têm se tornado, verdadeiros ídolos. O meio passou a tomar o lugar do fim.
Gosto muito da atitude e da postura que João Batista tomou quando Jesus entrou em cena.

            É necessário que ele cresça e que eu diminua.
João 3:30

Penso que este deveria ser o sentimento de todo aquele que decide subir num palco, tablado ou mesmo um caixote de tomate para louvar e adorar ao Senhor.
Mas, ao contrário, o que temos visto com o passar do tempo são mega-shows. Auditórios em verdadeiros delírios, alucinados com a entrada do seu “cantor gospel” preferido. Superproduções que em nada deixam a desejar aos maiores concertos de rock que hoje existem no mundo. Porém, volto a dizer que não sou contra as superproduções, até porque não podemos deixar de mencionar que há servos de Deus que têm honrado o nome do Senhor em seus ministérios, mesmo através de megaeventos.
Mas, gostaria de chamar a sua atenção à letra da música que o Aurélio Rocha, um grande amigo meu de infância compôs e que o Brasil inteiro canta.

“Primeiro amor”

Quero voltar ao início de tudo, encontrar-me contigo Senhor
Quero rever meus conceitos, valores, eu quero reconstruir
Vou regressar ao caminho, vou ver as primeiras obras Senhor
Eu me arrependo, Senhor, me arrependo, Senhor,
Me arrependo, Senhor

Eu quero voltar ao primeiro amor, ao primeiro amor,
Eu quero voltar a Deus

Com muita tristeza, vejo a história de alguns cantores e cantoras que quando começaram eram pessoas humildes e sinceras, mas com o passar do tempo, com a chegada da fama, do sucesso e do dinheiro, foram se transformando até ao ponto de hoje entrarem nos lugares acompanhados de seguranças. É uma pena. Jesus vivia cercado pelas multidões, mas isso nunca o impediu de levar adiante o seu ministério.
Talvez, o que precisamos seja exatamente voltar ao primeiro amor, onde tudo começou, ao início de tudo. Talvez seja necessário que regressemos no caminho e vejamos as nossas primeiras obras e como foram realizadas, ou seja, com que espírito as fizemos.
Que a nossa adoração chegue ao Trono de Deus e possamos impedir que ela se transforme em uma “adorashow”.
Talvez, e por fim, seja realmente necessário que nos arrependamos diante do Senhor e voltemos ao primeiro amor... Jesus.
Peço que por mais alguns minutos ainda, você possa parar e ouvir esta canção que fala profundamente ao nosso coração e, quem sabe, em espírito de oração, você possa ter um momento de quebrantamento e profunda adoração ao Senhor.
Deus te abençoe e te conduza à Sala do Trono e que a nuvem da Glória de Deus desça em sua casa e em sua vida.
Sinceramente,
Roberto Caputo